segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O lado chovedor

Nasci em Cruz Alta, que é um município do Rio Grande do Sul.
Minha mãe também é de lá.
Meu pai é de Itaqui, que também é um município do meu Estado.
Quem nasce no RS, é gaúcho.
Então, somos gaúchos (cruzaltenses e itaquiense) do interior, vivendo na cidade grande, que é Porto Alegre, capital do Estado em que vivemos.
Com menos de dois anos, estava em Porto Alegre e cresci ouvindo falar do "lado chovedor", em dias nublados ou de chuva.
Da minha casa, já aprendi a olhar para ele a fim de saber se aquelas nuvens "pretas" significam chuva para nós ou se elas só estão passando para desaguar em outro lugar.
Ou ainda se o céu já está limpando e posso arriscar a sair sem sombrinha para a rua.
Também sei "ler o lado chovedor" quando estou na Praia do Camacho, em Santa Catarina.
Muita esperta, eu? Não. Sabedoria dos meus pais.
Desde sempre.
Então é normal guiar-me por este sinal do céu, quando posso.
E quando não sei onde fica, sinto falta.

E exatamente por isto estranhei quando...
numa saída para almoçar com um amigo...
e estando um céu cheio de nuvens carregadas...
e pairando a incerteza se daria tempo de almoçar e voltar sem chuva...
ao mencionar o "lado chovedor", esse amigo (nascido em Porto Alegre) comentou algo do tipo:
- "Lá vêm vocês com este papo de lado chovedor..."
E seguiu comentando que a família da esposa dele, que veio do interior, também fala no "lado chovedor" em dias de chuva. E que ele não entende nada disto.
Para ele, como brincou, "lado chovedor é o de cima, de onde cai a chuva".
Rimos.
Mas este fato chamou minha atenção.
Só então me dei conta de que nem todo mundo tem o conhecimento de onde fica seu "lado chovedor" mais conhecido.
Faz todo sentido.
Nem todo mundo conviveu com esta informação algum dia.
Também devo ter perdido muito mais aprendizados naturais por mal ter convivido no interior ou por falta de contato com pessoas que entendam disto.
Mal e mal sei nome de pássaros, de flores, de árvores...
De nuvens então? Sei do rabo de galo e quando elas embolam. Só.

Coisas de geração passando para geração. Coisas, talvez, de interior. Coisas de prestar atenção a um sinal da natureza e aceitar de bom grado seu recado e ajuda.
Minha sobrinha de 15 anos segue ouvindo sobre o "lado chovedor"...será que o conhecimento vai seguir na família por mais gerações?
Espero que sim. Espero que ela leve adiante.
Que meu irmão mais velho tenha achado o "lado chovedor" dele lá no ES e que comente com meus sobrinhos.
Por mais tecnologia que tenhamos, cada vez mais à nossa mão, uma olhada à natureza pode nos dar a informação que precisamos.
É um conservadorismo que acho que vale a pena seguir entre nós.

Obrigada por terem vindo até aqui.
Namastê!

2 comentários:

  1. Ehehe, mas tenho várias outras que mesmo sem ser do interior, eu sei, rs. Acabei indo para muitos 'interiores' e descobri que nem todo 'interior' usa as mesmas expressões e acho que tu tens muita razão em tuas palavras.

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    1. Muito obrigada! Quero aprender teus ensinamentos! :) E, quem sabe, conseguir repassá-los depois.

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